RAZÃO E SENSIBILIDADE | JANE AUSTEN - Ex-libris Amélias

terça-feira, 15 de setembro de 2020

RAZÃO E SENSIBILIDADE | JANE AUSTEN




Razão e Sensibilidade é um romance da escritora inglesa Jane Austen, sendo o seu primeiro livro publicado, em 1811. 


Antes da resenha propriamente dita, gostaria de deixar claro que este livro foi um desafio para mim por dois motivos. Primeiramente, por ser um romance, gênero que eu não costumo ler. Em segundo lugar, é uma obra muito antiga, com um vocabulário antigo, que trata de questões um pouco polêmicas em comparação a atualidade, o que me fez hesitar se deveria ler realmente. Ao ler este livro eu esperava encontrar uma história de romance mas terminei por descobrir como funcionava a sociedade no século XIX.

Razão e Sensibilidade acompanha a trajetória de duas irmãs que após perderem o pai se mudam com sua mãe de Norwood para um pequeno chalé em Devonshire, um condado na Inglaterra. Elinor Dashwood, a mais velha, representa o lado racional da família, uma mulher forte e segura de seus sentimentos. Já Marianne Dashwood, ao contrário da irmã, põe sempre o coração a frente de suas decisões. 

O livro é dividido em 3 volumes e se inicia a partir do momento em que as irmãs mudam-se para o interior com sua mãe e a irmã mais nova Margareth (que não tem papel muito relevante na história) para viver de favor na casa do primo de sua mãe. Nessa nova vida no interior, Marianne se apaixona pelo charmoso John Willoughby, enquanto Elinor ainda lamenta pela perda de Edward Ferrars, um interesse amoroso o qual ela deixou para trás em Norwood. No desenvolver da história, as irmãs se veem de frente com situações embaraçosas que põem em prova seus valores interiores. 

Elinor, ao mesmo tempo que lamentava a distância de Edward, teve que lidar com as lamúrias da irmã que estava perdidamente encantada por Willoughby que, após alimentar Marianne com esperanças de um romance, partiu para a cidade grande, deixando-a repentinamente e sem uma explicação convincente. A história nos apresenta ainda o Coronel Brandon, um homem bem mais velho do que as duas irmãs, que se encanta por Marianne mas que não recebe a mesma admiração em troca. Apesar de todas as boas ações que o Coronel presta para a família Dashwood, Marianne não o vê como um pretendente por não sentir algo verdadeiro e genuíno por ele. Elinor, por sua vez, mais tarde reencontra seu antigo amor, Edward mas não da maneira como ela imaginava, sofrendo uma grande decepção que terá que aprender a lidar sozinha por um bom tempo.

Baseado no título da obra, poderíamos definir as duas irmãs como uma representando a razão e outra sensibilidade, porém, ao longo do enredo é possível perceber que as duas partilham desses valores entre si em vários momentos. Este é um  ponto importante que quero destacar, a forma como Jane Austen constrói as personagens de uma forma tão íntima que durante a leitura sentimo-nos como se a conhecêssemos de longa data. 

Na verdade, eu poderia tentar descrevê-las de várias maneiras, mas jamais o faria melhor do que a própria Jane Austen. Por isso, deixo aqui os primeiros trechos descritivos das irmãs no livro:

“Elinor, sua primogênita, cujo conselho fora tão eficaz, possuía sólida capacidade
de compreensão e grande serenidade de juízo que a qualificavam – mesmo com apenas
dezenove anos, a ser conselheira da mãe. Desta forma ela se permitia frequentemente
contrariar a mãe para o bem de toda família, pois essa impaciência de espírito de Mrs.
Dashwood geralmente a conduzia para a imprudência. A moça tinha um bom coração, um
caráter afetuoso e sentimentos profundos, mas sabia como governá-los; algo que sua mãe
ainda tinha que aprender e que uma de suas irmãs resolvera que jamais aprenderia."

 

"Em muitos aspectos, as qualidades de Marianne eram bastante parecidas com as de
Elinor. Ela era uma moça sensata e inteligente, mas ansiosa em tudo: suas angústias e suas
alegrias não tinham moderação. Era generosa, amigável, interessante, enfim, ela era tudo,
menos prudente."

 

Ao mesmo tempo que lidam com suas desilusões amorosas (muito baseada na condição social delas), as irmãs tentam enfrentar os comentários de uma sociedade do século XIX na qual o dinheiro e o casamento determinavam a vida da mulher. 

Vários motivos me levam a indicá-lo. Primeiramente, é um livro que contradiz o estereótipo de Jane Austen como uma escritora de "romance água com açúcar", pois trata de um assunto um tanto quanto polêmico (em comparação com a atualidade) que era o casamento baseado em posses de uma forma não machista, colocando as protagonistas femininas, seus desejos e sentimentos, sempre em primeiro lugar. A trama é repleta de um forte protagonismo feminino, no qual as personagens estão constantemente se perguntando e questionando sobre o real sentido de ser casar sem um sentimento verdadeiro para com o seu par. Elinor trata os homens todos como iguais, já Marianne é ela mesma em todos os momentos, sem necessidade de esconder sua personalidade peculiar para agradar os outros. Além de tudo isso, não posso deixar de citar a escrita fantástica de Jane Austen, que constroí suas personagens de forma tão íntima que parecem pessoas reais e não fictícias, além da presença constante de uma ironia que critica muito sutilmente os costumes da época, revelando a autora como uma mulher a frente de seu tempo.

O livro possui também uma adaptação para o cinema de 1995, estrelado por Emma Thompson e Kate Winslet, além de outras estrelas como Alan Rickman e Hugh Grant. A adaptação é muito fiel à obra original e a considero um excelente meio de entender a história de uma forma mais fácil.

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